segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Diário de uma ex-obreira - Capitulo 19


O pastor Flávio me procurou para conversar, me ligou dizendo que estava muito chateado e que precisava conversar, e naquele momento ele só poderia contar comigo. Marcamos de nos encontrar em uma sorveteria perto da minha igreja, eu também não tinha ninguém com quem conversar, todos os que se diziam amigos me viraram as costas naquele momento, ou talvez tenha sido eu mesmo que afastei todos eles, mas a questão era que eu estava sozinha. Cheguei na sorveteria o Flávio já estava lá me esperando, sentei ao lado dele, ele parecia estar ainda mais bonito do que da ultima vez que nos encontramos. Dessa vez ele estava com um visual mais despojado, calça jeans escura e justa, sapato, e uma camiseta branca, simples, mas absolutamente encantador. O cabelo estava sem gel dessa vez, meio bagunçado, e usava óculos escuros, me lembrou os bad boys dos anos 80, e aquele visual me deixou ainda mais atraída por ele.

Novamente conversamos por horas, não me lembrava de ter uma tarde tão agradável em anos, a companhia dele fazia o tempo voar. Ele me contou que o bispo nem quis escutar sua versão da história e o tirou da obra. Ele não era mais pastor, mas me disse que não desistiria de voltar pro altar, pois lá era o lugar dele e ele tinha certeza de seu chamado. Disse que terminou de vez com a Mariana, terminou o que nem tinha começado, ele atribuía a culpa dele ter saído da obra a ela. Eles nem namoravam, ela não tinha o direito de armar o barraco que armou. Eu contei pra ele que eu também tinha saído de obreira, que estava muito triste com toda aquela situação, mas que eu não guardava magoa dela nem de ninguém, e que era para ele também não guardar.

Os olhos deles brilhavam cada vez que ele falava da obra, me contou como chegou na igreja e tudo que Deus havia feito em sua vida, me contou casos das igrejas que ele já passou, pessoas que conheceu, histórias que viveu. Nunca tinha conhecido ninguém antes que falasse com tanto amor da obra de Deus. Dava pra ver no olhar dele que ele realmente tinha o chamado e era um erro ele ter perdido o que mais amava.  Aquele amor pelas almas, aquela sede de justiça, aquele brilho nos olhos, tudo isso me fascinava.  Ele era realmente um homem de Deus, não tinha como negar, ele tem se mostrado assim dês do dia que eu o conheci. Mas um homem de Deus que havia cometido um erro, mas eu não poderia julgar, afinal aquele erro era eu. E quem nunca errou que atire a primeira pedra. A força que ele mostrou mesmo depois de tudo me fez o admirar ainda mais.

Ele estava hospedado temporariamente na casa de um obreiro, do obreiro Paulo para ser mais especifica. Foi o Paulo que nos apresentou no dia do meu aniversário, eu tinha muito carinho por ele, e fiquei feliz em saber que o Flávio estava na casa dele, sabia que lá ele seria bem tratado. O Paulo era um dos poucos que ainda conversava normalmente comigo, nunca me tratou diferente, ele era um grande amigo. Mas o Flávio me informou que ainda não sabia o que faria. A família dele era do interior, e ele não queria ter que voltar para lá. As chances dele voltar pro altar lá seria minimas, mas ele não poderia ficar morando muito tempo de favor na casa do Paulo, ele não tinha dinheiro, não tinha trabalho, não tinha nada. Me disse que se não arrumasse logo um emprego voltaria para a casa dos pais. Meu coração doeu só de imaginar ele tão longe de mim.

CONTINUA...



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